08 março 2015

Assassinato de Gilles Cistac: hipóteses sobre contexto, causalidade e consequências (5)

"O facto científico é conquistado, construído e verificado" [Gaston Bachelard]
Quinto número da série. Entro no segundo ponto do sumário proposto aqui, a saber: 2. Possíveis modelos de imputação, ponto 2.1. Foi a Frelimo. Esta parece ser a imputação mais generalizada, mais corrente, a vários níveis. Estabelece-se uma ligação instintiva entre três fenómenos: (1) posição de Cistac em relação às províncias autónomas reclamadas pela Renamo, declarando a sua constitucionalidade, (2) crítica do Partido Frelimo à Renamo e a Cistac e (3) assassinato do constitucionalista no dia 3.
Eis a formalização da ligação instintiva:
1.A Renamo quer autonomia nas províncias onde ganhou as eleições
2.O Professor Cistac defendia a constitucionalidade das províncias autónomas
3.A Frelimo criticou a Renamo e o constitucionalista Cistac
4.A Frelimo decidiu assassinar o constitucionalista Cistac
Um aspecto a salientar é a violência dos ataques verbais e escritos da Frelimo a Gilles Cistac. Provavelmente essa violência foi e é uma das mais importantes alavancas da imputação aqui em causa. A questão pode ser apresentada assim: a Frelimo sentiu-se ameaçada, teme perder a hegemonia estatal e territorial, por isso primeiro criticou rudemente aquele que considerava ser o intelectual legitimador da pretensão da Renamo e, depois, decidiu matá-lo alugando uma equipa de assassinos. Em certos jornais e em muitas páginas das redes sociais é bem visível que o que parece, é.
Agora, uma questão: qual o interesse da Frelimo em matar ou mandar matar Cistac justamente num momento político delicado - com os resultados eleitorais de 15 de Outubro colocados em causa e com a crescente influência estratégica da Renamo -, sabendo que isso poderia arruinar a sua pretensão pós-eleitoral à legitimidade política?
Finalmente: estamos neste momento perante uma imputação sem nenhuma base factual de apoio. Por outras palavras, nenhuma prova foi até agora apresentada que permita atribuir à Frelimo a responsabilidade do assassinato, seja a Frelimo como entidade global, seja a Frelimo a nível da instância A ou B (aí compreendido o Estado, que gere) ou da pessoa A ou B.

1 comentário:

nachingweya disse...

Muitos assassinatos políticos acontecem em momentos políticos delicados, tal como este.
A morte de Cistac é consequencial ao desaire do Governo Moçambicano em Satungira