06 junho 2012

A hipótese do duplo poder (9)

O nono número da série, baseada num trabalho do jornal "O País", versão digital, conferível aqui. Prossigo no ponto 2 do sumário proposto aqui.
2. A especificidade moçambicana. Escrevi no número anterior que para os produtores de raiz da pátria o desafio político imediato consiste em saber como manter por mais tempo a sua dominação real através de uma direcção estatal formal, de transição, assegurada por sucessores mais jovens, pós-independência, disciplinados e obedientes.
Essa dominação real tem menos a ver com o poder de figuras com os nomes A, B ou C, do que com uma lógica grupal, lógica que vai para além da visão habitualmente individualizante consistindo em ver Guebuza, por exemplo, como um candidato ao poder eterno do tipo mugabeano.
Se não se importam, prossigo mais tarde.
(continua)

2 comentários:

nachingweya disse...

'Quo vadis' Moçambique

ricardo disse...

Na realidade, parece-me, o objectivo e manter os privilegios de uma determinada subclasse (que governa) que se demarca nitidamente do conjunto universal (outras subclasses e desclassificados), corroborando com isto aqui:

"...elite socialmente dominante, ainda que não incontestada, de Moçambique e que é essencialmente composto pelos membros do partido
governante da FRELIMO e pelos seus familiares e associados próximos. Não pretendo afirmar que este grupo é completamente homogéneo; de facto, existem diversas facções e clivagens sociais no seu seio. Tais clivagens estão relacionadas com os diversos antecedentes sociais dos membros da elite e incluem a etnia, a região, a religião e o nível de instrução. Existem também fissuras entre a velha guarda revolucionária, que participou na luta pela libertação, aqueles que aderiram ao partido pouco depois e a nova geração de «tecnocratas» que assumiram posições de destaque na fase final do período socialista ou já depois do mesmo. Algumas das actuais facções dentro da hierarquia da FRELIMO resultam destas diferenças, ainda que
tendam geralmente a emergir em torno de tópicos como o papel da economia de mercado, a democratização e outras grandes questões. Embora muitos membros da elite tenham sérias divergências de opinião e, em privado, possam manifestar verdadeira animosidade uns pelos outros, há que não exagerar a importância destas clivagens..."

Justamente, porque no final do dia, todos concordam que o "status quo" e que lhes permite manter os privilegios que actualmente dispoem.
Por outro lado, nao obstante o conceito CLASSE ser publicamente rejeitado pelos intelectuais de base esquerdista da FRELIMO, o sistema neo-liberal cria as condicoes suficientes para que ele se manifeste e seja aceite como uma inevitabilidade do mundo actual.