12 janeiro 2014

Psicologia

Podem ser considerados dois momentos interligados na disciplinarização social que tem o seu auge no século XIX europeu: o classificatório e o organizador. O classificatório, baseado na Razão e na lógica binária (lei/caos, objectivo/subjectivo, espírito/matéria, corpo/alma, bem/mal, racional/irracional, são/doente, normal/anormal, perigoso/inofensivo, interior/exterior, civilizado/atrasado, história/sem-história, etc.); o organizador panóptico, que dota os hospitais, as escolas, as prisões, os diferentes aparelhos do Estado enfim, de princípios espaciais de assepsia política: ordem, norma e vigilância permanente. O desenvolvimento rápido da estatística e da polícia é, a esse respeito, sintomático. Por trás dos dispositivos carcerais e preventivos, esconde-se, como escreveu Foucault, o medo do contágio, da peste, das revoltas, dos crimes, da vagabundagem, das deserções, das pessoas que aparecem e desaparecem, vivem e moram na desordem. O poder disciplinar encontra na prisão o seu centro por excelência para, tal como no caso dos hospitais psiquiátricos, dar origem ao estudo do desviante social enquanto objecto de investigação científica. Assim nasce a psicologia. Ao desviante social junta-se o doente mental.

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