16 janeiro 2014

Espírito do deixa-falar (7)

Membros da equipa, da esquerda para a direita nas caricaturas em epígrafe: Sónia Ribeiro, moçambicana, professora de Biologia, Bairro Sansão Muthemba, cidade de Tete; Carlos Serra, moçambicano, coordenador, Bairro da Polana, cidade de Maputo; Geraldo dos Santos, moçambicano, historiador, Bairro da Malhangalene, cidade de Maputo; Félix Gorane, moçambicano, advogado, Bairro do Macúti, cidade da Beira; Joseph Poisson, francês, farmacêutico, Rue des Écoles (quarteirão latino), cidade de Paris.
Geraldo do Santos: vamos lá prosseguir. Temos, então, uma vasta galeria de perfir diversos. Uma parte significativa dessas pessoas foi para países como África do Sul e a então Rodésia do Sul. Foi essencialmente aí que se combinaram duas coisas: por um lado, os interesses estratégicos dessas duas potências, inconformadas com os ventos políticos que sopravam do nosso país, ameaçando a sua hegemonia a dois níveis, no tocante ao capitalismo e no tocante ao racismo; por outro, a insatisfação e os protestos dos moçambicanos que estavam contra a gestão política e económica da Frelimo. Os interesses das duas potências deram forma e alavancaram a raiva dos refugiados. A Renamo foi um produto da conjugação desses dois fenómenos. Esperem um pouco, voltarei para continuar. Respeitosos cumprimentos. Geraldo
Carlos Serra: bem, como não sei se o Geraldo volta cedo, vou permitir-me perguntar à Sónia Robeiro se gostaria de fazer algum comentário, sem nunca me esquecer de vos recordar a pergunta já feita: estamos confrontados com o espectro de uma nova guerra civil, face às notícias inquietantes de actos militares que nos vão chegando através da imprensa? Abraço. Carlos
Sónia Ribeiro: sim, quero dizer alguma coisa, obrigadinho. Por aquilo que os mais velhos me têm contado nestes anos todos, é preciso dizer que existe hoje uma tentativa, aqui e além, de "branquear" as atitudes de certos dos nossos compatriotas desses tempos longínquos, apresentando-os como vítimas do rolo compressor da Frelimo. A Frelimo aparece sempre como o lobo mau da fita que quer desgraçar os inocentes porquinhos. Ora, segundo esses mais velhos, alguns dos nossos compatriotas tiveram comportamentos ostensivamente prócoloniais e antipatrióticos, comportamentos antiprogressistas. As suas folhas de serviços não tinham a pureza que certos cavalheiros hoje exibem em certas páginas, assim asseveram os mais velhos. Depois há outra coisinha. Defendo que existe um processo permanente e intencional de "demonização" do Dhkalama, ele está transformado em certos quadrantes no padrinho do inferno moçambicano. Ele aparece como culpado de tudo o que de mau surge no país. É o clássico efeito Halo. Bem, o que acham destas duas coisinhas? Beijinhos enormes aqui do Zambeze e não se esqueçam de me procurar quando aqui vierem para comermos um bom pende à maneira com umas batatinhas cozidas com casca. Sónia
(continua)
Adenda: a série pode também ser consultada na minha página da Academia.edu, aqui; sobre como nasceu este deixa-falar, confira um texto do Geraldo dos Santos, aqui.

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