06 julho 2013

Estradas contra cidades em Moçambique: cenários políticos

Parece que a Renamo quer o seguinte: paridade de membros (Frelimo/Renamo) nas comissões eleitorais, directores e directores-adjuntos do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE) fruto de um acordo entre a Frelimo e a Renamo, membros dos partidos políticos no STAE e nas assembleias de voto.
O que quer isso dizer? Quer dizer que a Renamo entende que o país deve ser regido por uma espécie de neo-acordo de Berlim assinado unicamente por dois partidos, Frelimo e Renamo. Não pensa sequer na gestão dos órgãos eleitorais por parte de pessoas competentes escolhidas por concurso público.
Qual a estratégia de pressão da Renamo? A partir da Gorongosa, impôr a guerrilha das estradas (a começar pelo Estrada Nacional n.º 1) contra a protecção governamental das cidades pela Força de Intervenção Rápida.
Por consequência, a polaridade do insólito contra o normalizado, do campo contra a cidade, da surpresa contra o hábito, do guerrilheiro da surpresa AKM contra o soldado das casernas e dos blindados, das estradas contra as cidades.
O que poderá suceder? Poderão suceder três coisas: 1. Solutio sexum Savimbi necem: o exército governamental (tenha-se em conta a frequência com que as declarações do Partido Frelimo ombreiam com as declarações governamentais) ataca e destrói a base da Satunjira e mata Dhlakama (este já reconheceu que isso poderá suceder); 2. Solução redistributiva: lá mais para a frente, Frelimo e Renamo concertam uma solução política com beneplácito estatal que, através de um encontro pessoal Guebuza/Dhlakama, acomode os interesses da elite da Renamo em recursos de poder e prestígio e permita olear a reprodução global e permanente dos interesses do Capital; 3. Solução dos falcões: a precipitação nos dois lados reacende uma guerrilha barata a partir do Centro a cargo da Renamo (na hipótese de que possua uma solução pan-Santujira), com: 3.1. Retracção imediata do Capital nacional e internacional, 3.2. Incremento de despesas governamentais militares e 3.3. Pressão da comunidade internacional doadora no sentido de o governo aceitar um "governo de unidade nacional" do tipo queniano ou zimbabueano.
Qualquer das três soluções (e sem dúvida que outras poderão ser consideradas) pode dar origem a nova necessidade de soluções. Afinal, é sempre mais fácil profetizar o passado do que o futuro.
Adenda às 9:15: confira um trabalho no ThinkAfricaPress, aqui.

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Alto texto. O que se passou hoje em Muxungué talvez esteja ligado ao ponto três.

ricardo disse...

Diria que ainda ha muito caju por amadurecer na arvore...

Nenhuma das partes deseja ceder, por via do bom senso que a inteligencia acumulada de 37 anos de independencia faria supor. Uma vez mais, terao que ser os "outros" a ditarem a receita do bolo que os mocambicanos irao comer.

Nao devemos contudo, descontar outros potenciais conflitos que eclodirao nas zonas urbanas. Em suma, o caminho esta cada vez mais irreversivel. E quando assim e, o vencedor e por KO.