11 abril 2013

A cova não está em Muxúnguè (2)

O segundo número desta nova série, na qual vou procurar reflectir um pouco sobre as memórias colectivas militarizadas e militarizantes e sobre os dois Estados do nosso país. Permitam-me, por enquanto, resumir a peça de Aristófanes. Camponês saturado da guerra entre Atenas e Esparta e dos políticos, Trigeu vai ao céu falar com Zeus. Este não está, mas atende-o Hermes, que o ajuda a tirar a paz do fundo de uma caverna onde tinha sido metida pelos inimigos. A paz volta à terra, a agricultura floresce, as pessoas estão alegres, menos os fabricantes de armas, que estão desesperados. A peça termina com o casamento entre Trigeu e Opôra, a deusa das colheitas. O comediógrafo soube ver que não era apenas uma guerra entre Atenas e Esparta, mas - assinalou correctamente o prefaciador da obra, Agostinho da Silva -, "a guerra de todos os homens contra todos os homens, (...) o divórcio entre os interesses dos governos e os interesses dos povos, (...) a educação belicosa dada às crianças" (Aristófanes, A Paz. Lisboa: Editorial Inquérito, sem data).
Se não se importam, prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: "Então, permitam-me esta banalidade: não é o instinto guerrilheiro que leva a Gorongosa a regressar a Dhlakama (autorizem-me este paradoxo), mas, in nuce, o desejo de partilha dos recursos de poder. Esse é o programa social da Renamo. As matas da Gorongosa, em toda a sua sugestão castrense retroactiva, são a linguagem impositiva desse desejo de Dhlakama e do núcleo hegemónico da Renamo. A ameaça guerrilheira do passado almeja, afinal, partilhar o futuro do conforto urbano. Por isso, como mecanismo de pressão, aos votos eleitorais são opostos os votos da mata guerrilheira. Adaptando Clausewitz, a Gorongosa é a continuação da política por outros meios." - parte final do último número da minha série intitulada Por que regressa a Gorongosa a Dhlakama?, aqui.
Adenda 2 às 5:12: relato do "Notícias" digital de hoje da conferência de imprensa de Dhlakama, aqui e aqui. Multiplicam-se agora os processos dialogais, confira aqui.
Adenda 3 às 8:30: actualização hoje feita no "Canal de Moçambique" digital, aqui.

1 comentário:

Salvador Langa disse...

Pois claro, os políticos e seus interesses.