11 outubro 2012

Como suster os linchamentos? (4)

Quarto número da série. Prossigo no segundo ponto do sumário proposto aqui. 2. Que tipos de linchamentos existem no país? O linchamento, essencialmente periurbano, por acusação de roubo ou de estupro, ocorre regra geral de noite, a cargo de uma multidão que mata por agressão, à pedrada ou por queima com gasolina. A vítima é quase sempre do sexo masculino, um jovem desempregado. Prossigo mais tarde. Recorde o mais recente caso de linchamento oficialmente reportado, ocorrido na cidade da Beira, aqui.
(continua)
Adenda: este diário tem muitas postagens dedicadas aos lincchamentos. Leia, por exemplo, esta, de 2008, aqui. E, se possível, tente ler os livros com as capas mostradas a seguir (clique sobre as imagens com o lado esquerdo do rato para as ampliar):

2 comentários:

Salvador Langa disse...

Esta é uma série do blog que vou seguindo sempre. Mas penso que os linchamentos se tornaram banais.

João Feijó disse...

Bom dia professor,

Nas últimas semanas estive em Nacala-Porto onde um novo fenómeno está a incomodar a população.
Há cerca de 2/3 meses atrás grupos de cerca de 15 indivíduos armados com catanas começaram a invadir durante a noite residências isoladas nas zonas da praia, imobilizaram os guardas, arrombaram as portas e roubaram praticamente tudo o que encontravam de valor. Em cerca de 2 meses foram participados à polícia 16 assaltos do género só na zona da praia perto de Fernão Veloso. Os assaltos alastraram-se para outros bairros bem mais populosos da cidade, afectando cidadãos nacionais e estrangeiros.
A situação agravou-se ao ponto de praticamente todas as pessoas com quem falei terem referido que foram assaltadas (mostrando inclusive as feridas de ataques com catanas) ou conhecerem pessoas que foram assaltadas por grupos numerosos e armados. Durante a noite passou a ser arriscado andar de mota ou até de carro, uma vez que grupos de indivíduos bloqueiam as estradas fazendo emboscadas.
As pessoas com quem falei consideraram incomum as características dos assaltos, protagonizados por grupos numerosos de indivíduos armados. Segundo os mesmos, apesar de tarde, a polícia começou a intervir ao longo das últimas semanas. Quase todos os dias me referiram situações de disparos durante a noite anterior. Alegadamente a polícia dispara para matar, para além de realizar rusgas nos domicílios durante a noite (em violação da lei?). Há algumas semanas noticiou-se que um grupo de cerca de 20 presidiários fugiu da prisão. Alguns nacalenses com quem falei desconfiam que esses indivíduos foram assassinados pela polícia. Por um lado considera-se que a população está com receio dos bandidos (bastante numerosos que intimidam as populações vizinhas durante os assaltos), mas considera-se que mais tarde ou mais cedo se organizarão também em milícias e que irão começar a promover linchamentos, de forma semelhante ao que acontece nas cidades de Maputo e da Beira. Por outro considera-se que a resposta brutal da polícia começou a surtir efeito (diz-se que vieram agentes armados de Maputo) e que nas últimas semanas se registou uma diminuição de assaltos.
Seria interessante analisar todo este fenómeno, contextualizando-o nas dinâmicas da cidade e da região, fortemente marcada pelo investimento, pelo surgimento de oportunidades, mas também pelo aumento exagerado de desigualdades sociais. Durante o dia encontram-se centenas de jovens desocupados, sentados nos passeios das zonas comerciais da cidade.

Um abraço,

João