11 julho 2012

A carne dos outros (11)

Décimo primeiro número da série, com tema referido aqui, mantendo-me no ponto quarto do sumário sugerido aqui: 4. O efeito Muhôa. O caso de Muhôa reabilita a observação quinhentista de Francisco Monclaro, quer dizer, a hostilidade para com os processos de acumulação de bem-estar, havidos como executados à custa das comunidades. É, no fundo, o mesmo princípio, bem mais perverso agora, que - recordando o texto de Francisco Figueira - conduz à designação dos abastados para dirigentes comunitários, sendo seu destino o de gastar totalmente o seu bem-estar com as comunidades. A acusação de feitiçaria agia e age como um equilibrador social, como um termostato. Se não se importam, prossigo mais tarde.
(continua)
* Entretanto, recorde a minha série em 14 números intitulada Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu, aqui. Para um excelente livro em francês que estabelece uma relação entre a percepções populares, feitiçaria, política e enriquecimento, consulte Geschere, Peter, Sorcellerie et politique, la viande des autres en Afrique. Paris: Karthala, 1995.

2 comentários:

nachingweya disse...

Vejamos as possíveis interpretações da exortação presidencial "Vamos combater a pobreza" à luz de:
1) Monclcaro: Vamos exterminar o povo e dizimar as comunidades para enriquecer;(Aqui os feiticeiros são os ricos)
2) Francisco Figueira:Vamos expropriar aquele que tem mais designando-o chefe até à própria falência.(Aqui não há evidência de feitiço, e não se enquadra a exortação porque o objectivo é alcançar a pobreza, não combatê-la)
3) Efeito Muhôa: Vamos trabalhar e enriquecer para que os feiticeiros tenham pasto (Aqui parece que o feiticeiro não é nem rico nem pobre, ocupa outra dimensão que demove o povo do trabalho; a exortação parece uma cumplicidade que o povo já farejou, não trabalha mesmo!)

Salvador Langa disse...

Faltam estudos sobre a feitiçaria, sobre o seu simbolismo.